Zeit für Berlin!

"Será que nos podemos apaixonar por uma cidade que nos recebe com tanta indiferença, quase roçando a rudeza? Uma cidade com duas torres, umas das quais parece uma paródia à Torre Eiffel e a outra um citronela de cimento com uma ervilha gigante no topo? Com ruas intermináveis permanentemente varridas pelo vento de leste? E com uma armada de gruas usadas na construção de horríveis edifícios cinzentos? Podemos, mas demora tempo. Berlim não é nenhum amour fou, não é um caso de amor à primeira vista. Não se abre ao turista acidental que um autocarro descarrega em frente ao Reichstag e percorre apressadamente todos os monumentos que à noite servem de cenário aos correspondentes dos canais televisivos.
Não confia os seus segredos a ninguém que se limite a seguir os percursos assinalados nos guias de viagem. Quem realmente se quiser sentir em casa em Berlim tem de se deixar conduzir pela cidade e aprender a compreender o pragmatismo impertinente dos seus habitantes. Tem de passear por arcos degradados em pátios interiores floridos, abrir as portas ao estilo Arte Nova de casas de jardim ocultas e sentar-se em pequenos parques, à sombra de castanheiros, até conhecer todas as peças do puzzle.
Cada bairro de Berlim é um mundo à parte - não têm nada a ver uns com os outros, mas de alguma forma acabam por criar uma certa unidade. Tão peculiares como os bairros são as residências desta cidade, pois Berlim não impõe nenhum estilo nem estabelece limites. A cidade tem espaço em abundância e torna tudo possível: do salão num edifício antigo ao loft, do atelier ao duplex do designer. Desde que chegou ao fim a desenfreada e algo desgastante época da "Boomtown Berlin" e a extravagância compulsiva se ajustou à escala normal da metrópole, tornou-se possível voltar a viver aqui com toda a paz, ou fazê-lo pela primeira vez, e cultivar um estilo pessoal. E para os muitos que ao longo do tempo já tinham tido uma paixoneta por Berlim, a cidade torna-se subitamente algo mais: um amor para a vida." Christiane Reiter