Chove a leste num dia de Verão...
Num dia em que eu estava bastante distante da Terra que me viu nascer e crescer. Chovia como se alguém, estupidamente, lamentasse a minha distancia. Nuvens negras encobrem os céus que pairam sobre mim. Os corvos que marcham nele, gritam a plenos pulmões, a avisarem que algo de muito grave está a caminho. As trevas estão a apoderar-se do campo de batalha. O Mundo virara escuro. Virara feio. Virara azedo...
Caminho por entre castelos e muralhas de tempos longínquos, sem qualquer armadura para proteger o meu frágil corpo. À medida que marcho, encontro cavaleiros errantes, desesperados, à procura da sua espada à muito perdida. Ao contrário deles, eu não perdera a minha! Empunho-a bem alto, pois amarrara-a, com toda a força, ao meu punho. Decidira no entanto, não usar qualquer armadura e, deixar assim, o meu coração a descoberto, para que alguém com más intenções, o pudesse trespassar sem qualquer obstáculo e dificuldade.
Com uma cortina de chuva a cair ininterruptamente sobre mim, reparo que uns passos mais à frente, no passeio onde estou, encontra-se um fantasma. Ele segura uma placa que indica um restaurante de 3ª classe à sua direita. O cigarro que fuma é protegido pela viseira da sua armadura. A sua única arma é o tédio e ele, orgulhoso, sempre afirmou que nunca a perdera... E que espada bem pesada e poderosa! Rosna comigo à minha passagem numa língua que não é a minha. Com um ligeiro aceno com a cabeça, cumprimento-o e ele continuou com a sua missão interminável.
Não pude deixar de reparar no aquário central do restaurante do velho. Seres vivos produzidos em série esperam a hora da sua morte num ambiente mágico. Estão todos numa pista de dança com luzes psicadélicas e com um som de risos surdos por trás. Foram privados à muito das suas poderosas armas e, tudo o que lhes resta é esperar que alguém decida saciar o seu paladar. Mesmo estes seres, no seu campo de concentração personalizado, gozam de abundância. Não há fome para nenhum deles. No entanto, tal como todos os outros seres existentes, o seu destino é engordar para depois servirem de prato a um outro gordo qualquer. O Universo passara da lei da selva para a lei dos gordos. Quem domina é o gordo com a boca maior. E a culpa é de um macaco que resolveu dominar o fogo.
Continuo a caminhar por entre este vale de sombras. Por entre este vazio. A cidade preenche os céus e todo o horizonte. O chinfrim, que me assalta aos ouvidos, tem algo de profundamente melancólico e trágico. Algo de triste. Uma cidade que desde sempre cavalgara a toda a velocidade sem sentido. Apenas com o intuito de progredir. Os velhos foram ultrapassados! Mais nada faziam senão assistir a esta peça teatral que se deparava diante dos seus olhos. Como uma caravana cigana que passava a todo a vapor por eles. Os velhos deixaram-se de se preocupar... Assistiam sem qualquer reacção ao apocalipse! Deixavam de fazer sentido neste mundo. Triste fado este, em que os novos são os detentores da sabedoria e os velhos aqueles que nada sabem. Uma existência dedicada à correria. Ao efémero. Uma existência dedicada à abundância material e à satisfação sensorial. Sensores sempre activos! Para sentirem tudo o que passa e o que treme. O que treme é decapitado! O que hesita cai no abismo.
Esta marcha sem sentido continuou durante todo o dia, até que no final, dei-me por vencido. Desisti e fui para casa. Para os abraços quentes e acolhedores daqueles que nunca me deixaram ficar mal.
Num dia em que eu estava bastante distante da Terra que me viu nascer e crescer. Chovia como se alguém, estupidamente, lamentasse a minha distancia. Nuvens negras encobrem os céus que pairam sobre mim. Os corvos que marcham nele, gritam a plenos pulmões, a avisarem que algo de muito grave está a caminho. As trevas estão a apoderar-se do campo de batalha. O Mundo virara escuro. Virara feio. Virara azedo...
Caminho por entre castelos e muralhas de tempos longínquos, sem qualquer armadura para proteger o meu frágil corpo. À medida que marcho, encontro cavaleiros errantes, desesperados, à procura da sua espada à muito perdida. Ao contrário deles, eu não perdera a minha! Empunho-a bem alto, pois amarrara-a, com toda a força, ao meu punho. Decidira no entanto, não usar qualquer armadura e, deixar assim, o meu coração a descoberto, para que alguém com más intenções, o pudesse trespassar sem qualquer obstáculo e dificuldade.
Com uma cortina de chuva a cair ininterruptamente sobre mim, reparo que uns passos mais à frente, no passeio onde estou, encontra-se um fantasma. Ele segura uma placa que indica um restaurante de 3ª classe à sua direita. O cigarro que fuma é protegido pela viseira da sua armadura. A sua única arma é o tédio e ele, orgulhoso, sempre afirmou que nunca a perdera... E que espada bem pesada e poderosa! Rosna comigo à minha passagem numa língua que não é a minha. Com um ligeiro aceno com a cabeça, cumprimento-o e ele continuou com a sua missão interminável.
Não pude deixar de reparar no aquário central do restaurante do velho. Seres vivos produzidos em série esperam a hora da sua morte num ambiente mágico. Estão todos numa pista de dança com luzes psicadélicas e com um som de risos surdos por trás. Foram privados à muito das suas poderosas armas e, tudo o que lhes resta é esperar que alguém decida saciar o seu paladar. Mesmo estes seres, no seu campo de concentração personalizado, gozam de abundância. Não há fome para nenhum deles. No entanto, tal como todos os outros seres existentes, o seu destino é engordar para depois servirem de prato a um outro gordo qualquer. O Universo passara da lei da selva para a lei dos gordos. Quem domina é o gordo com a boca maior. E a culpa é de um macaco que resolveu dominar o fogo.
Continuo a caminhar por entre este vale de sombras. Por entre este vazio. A cidade preenche os céus e todo o horizonte. O chinfrim, que me assalta aos ouvidos, tem algo de profundamente melancólico e trágico. Algo de triste. Uma cidade que desde sempre cavalgara a toda a velocidade sem sentido. Apenas com o intuito de progredir. Os velhos foram ultrapassados! Mais nada faziam senão assistir a esta peça teatral que se deparava diante dos seus olhos. Como uma caravana cigana que passava a todo a vapor por eles. Os velhos deixaram-se de se preocupar... Assistiam sem qualquer reacção ao apocalipse! Deixavam de fazer sentido neste mundo. Triste fado este, em que os novos são os detentores da sabedoria e os velhos aqueles que nada sabem. Uma existência dedicada à correria. Ao efémero. Uma existência dedicada à abundância material e à satisfação sensorial. Sensores sempre activos! Para sentirem tudo o que passa e o que treme. O que treme é decapitado! O que hesita cai no abismo.
Esta marcha sem sentido continuou durante todo o dia, até que no final, dei-me por vencido. Desisti e fui para casa. Para os abraços quentes e acolhedores daqueles que nunca me deixaram ficar mal.
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