19 abril 2006

O Homem que me corta a gadelha

Chego ao meu barbeiro do costume e deparo-me com ele a ler um jornal. Sozinho no seu negócio de à muito... Entrei na loja e digo boa tarde. Ele responde-me "Boa tarde! O que vai ser?". Penso que o facto de estar na presença de um barbeiro, seria óbvio que queria cortar a minha já longa gadelha. Sento-me na cadeira... e ele lava-me a cabeça. Já desisti na batalha de lhe dizer que não quero amaciador, por isso deixo-o pôr. Em seguida, mudo de cadeira e peço-lhe para me cortar com a “máquina 6”. Noto-lhe uma desilusão no olhar... Longos anos de profissão e muita sabedoria, para chegar ali aquele momento. Um puto a dizer ao velho para lhe cortar com a máquina. Passado isto tento meter conversa... A conversa do costume... Primeiro começa o tempo, ele resmunga... Depois vem o futebol... pior... Depois vem o preço da gasolina... Ele não diz nada... Às tantas, desisto! Fico calado. Ficamos os dois calados e apenas o som da máquina... Zzzzzzzzz... Essa não se cala! Começo a imaginar como seria a vida deste Homem. A vida toda a cortar cabelo de outras pessoas. Quando penso nisso, lembro-me da sorte que eu tenho em poder estudar (Apesar de ser no Técnico!...). Também tento imaginar como será a vida familiar deste velho... Com todo este silêncio percebi... Não estou apenas a pagar um corte do cabelo, mas sim, um momento para estar sossegado sem pensar no muito trabalho que tenho pela frente. Estou ali num momento de meditação... A minha cabeça, muito fustigada ultimamente com a ajuda do computador, está a ser massajada por outra máquina, que me dá um certo descanso... Passado 15 minutos, a gadelha de outrora deu origem a uns pêlos em cima da “tola”. Sinto-me bem! Sinto-me um Homem novo. Um Homem com um novo corte. Venho-me embora feliz e com menos 10 euros na carteira!