26 março 2007

A História e a Morte

Há apenas uma coisa na vida que é certa, a morte! Tudo o resto é incerto, devido a diversos factores. A maioria deles, incontroláveis e imprevisíveis. No entanto, uma coisa é inevitável, iremos morrer. O que vêm depois dela, também não sabemos, pelo menos a nível científico. Existem teorias, nomeadamente religiosas, mas tudo muito incerto. Será que realmente vem alguma coisa? Digamos que não deixaremos realmente de existir. Existirá então uma presença física do nosso corpo, mesmo após a morte. Continuaremos a existir, pelo menos mais alguns anos. No entanto, essa presença é apenas do ponto de vista de um objecto, visto que o nosso corpo ficou “disfuncional”. Ou pelo menos no nosso entender de funcional.
Será que nos espera o vazio eterno? O “nada”? Deixaremos simplesmente de existir? A nossa mente não consegue assimilar tal conceito. A não existência. Temos como protecção psicológica uma espécie de invencibilidade inata. Uma consciência de imortalidade. Pelo menos nas sociedades ditas ocidentais (que felizmente, ultimamente, muito pouco lidam com a morte). A verdade é que a famosa frase “Só sei que nada sei” não poderia estar mais correcta e com todo o sentido. Quando mais procuramos a verdade (seja lá o que for este conceito), mais consciência temos que nada sabemos. A nossa realidade é nos apresentada pelos nossos cinco sentidos (há quem afirme que tem mais, mas ainda está para ser provado). No entanto, estes sentidos são bastante débeis e apenas servem para nos apresentar uma certa realidade.

Esta conversa sobre a morte veio no sentido do programa de ontem, “Os grandes Portugueses”. Há que relembrar que os 10 escolhidos, todos estão mortos. A história tem uma importância enorme para compreendermos o presente e planearmos o futuro. Somos nós os vivos que vamos continuar com a História do nossa país e com o seu futuro. A História de nada serve se dela não tirarmos lições. E as lições que a história, nomeadamente de Portugal, nos dá, são da maior importância. Não poderá existir uma repressão pela História, como sugerira a deputada Odete Santos. A história de Portugal da segunda metade do século 20, foi uma história bastante negra. No entanto, o século 20 foi um século de grande sofrimento mundial, não só o português. Talvez tenhamos tido um século menos sofredor do que a maioria de outros países. Há que aceitar a história, com todos os seus inconvenientes. Foram Homens que viverem e mudaram Portugal e o mundo. Não os poderemos rejeitar e apagá-los. No meu entender, a vitória de Salazar (tal como a sua presença nos 10 primeiros) é algo de bizarro e triste. Poderão dizer que é um concurso, no entanto, se votaram mais de 200 mil pessoas, significa que perto de 100 mil pessoas em Portugal têm a convicção que Salazar foi realmente o maior Português de sempre. Apenas num pais que não houve educação e aceitação e estudo pela sua história, isto é possível. Houve uma falha gravíssima das gerações pós 25 de Abril. Houve uma repressão pela repressão. Uma pseudo-democracia. E continuamos no pais de Salazar.

As pessoas não aceitam que Salazar morreu como chefe de estado. Que os portugueses nada fizeram para mudar isso. Ou então, fizeram e não conseguiram. Faz parte da nossa história! O falhanço em Portugal é visto como uma fraqueza. No Estados Unidos é visto como uma virtude. Uma pessoa que falhou, ao menos já experimentou esse falhanço e não volta a falhar, porque o reconheceu e aprendeu com ele. Houve a experiência, conceito fundamental em ciência (a base de todo o conhecimento). Vamos reconhecer o nosso falhanço e aprender com ele! Não negá-lo!

Há que referir que em 2º lugar ficou Cunhal. Lembrar-nos-emos que Cunhal tentou instaurar um governo Comunista em Portugal. Poderíamos estar a sair de uma catástrofe politica e entrar noutra. Não me lembro de um estado Comunista que valores como a liberdade existissem e a censura não. A disputa entre Cunhal e Salazar para 1º lugar, levou este programa ao rídiculo. E não só o programa, a opinião de certos portugueses sobre a sua História.

Vamos realmente estudar a nossa História e tirar elações dela! Então poderemos debater.

O conhecimento é a base da vida. A morte impõe o conhecimento para existir sentido na vida.

2 Comments:

Blogger João Maria Corrêa Monteiro said...

Faço minhas as palavras do Jaime Nogueira Pinto, do Rosado Fernandes e algumas do Paulo Portas, no final do programa. Disse o primeiro que aquilo não passava de um concurso. É verdade. É muito complicado comparar personagens de épocas tão diferentes. Referiu subtilmente uma coisa, que a meu ver é verdade, e que ficou patente no programa: ainda não é possível falar de Salazar com objectivade histórica, imparcial e desapaixonada. Existe um "politicamente correcto" que impede isso. "Salazar só fez mal" e era "mal intencionado". Não é criado o espaço para que se possa tentar perceber o que é que ele queria (continuando a concordar-se ou não). Só se pode dizer mal dele. Mais nada. Qualquer afastamento desta linha e fica-se rotulado de fascista, quase nazi, por parte dos mais exagerados (e menos esclarecidos). O poder (em sentido lato) vigente, tudo fez para que Salazar ficasse o mais abaixo possível. Passou-se mais tempo a apelar ao "voto útil" que a defender os vários candidatos.

Rosado Fernandes pôs o dedo na ferida: A vitória de Salazar foi um voto de protesto. Dos esmagadores 41%, muitos não seriam salazaristas. Foi porque a classe dirigente pós 25 de Abril, nas palavras de Rosado Fernandes, "roeu a corda". Falharam. Não cumpriram. Em certa medida, traíram. E o povo perde a cada dia que passa, a confiança no poder. Foi um reflexo do mau estar do país. Atenção, isto não é uma apologia de um regresso à ditadura e nem foi essa a intenção de Rosado Fernandes. É, infelizmente, a constatação da realidade.

Paulo Portas referiu outro aspecto que pode explicar os esmagadores 41%. A votação em bloco. Uns ouviram que Álvaro Cunhal estava bem posicionado, "toca a votar em Salazar!". Outros ouviram que Salazar estava bem posicionado e "toca a votar em Cunhal!". Não gosto especialmente do Portas. Estou mais próximo de não gostar. Mas com isto concordo.

Resta-me referir que não votei em ninguém. Não tinha dinheiro no telemóvel...!
A votar, teria escolhido D.JoãoII, um dos maiores reis de Portugal.
É constatar o óbvio que D. Afonso Henriques foi muito importante. É o pai da pátria mas, D. JoãoII foi o grande impulsionador de uma aventura que assegurou a nossa independência, a nossa força e que impediu que fôssemos engulidos, mais cedo ou mais tarde, por Espanha (mesmo assim eles estiveram por cá!). Talvez não tivéssemos mais de 800 anos de história, se D. JoãoII não trouxesse o "novo impulso"!
Na minha opinião, nem Salazar, que governou mais de 40 anos, nem Cunhal, dirigente político clandestino, mereciam os lugares cimeiros. Acho que, na hitória de Portugal como um todo, não foram os mais importantes. Serem escolhidos personalidades do séculoXX, ainda tão recente, é para mim sinal de que ainda há muita coisa mal contada. É normal. Foi há pouco tempo. Muitos dos protagonistas ainda estão "a dar cartas".

Para terminar, será bom fazer o seguinte exercício: Comparar o Portugal do princípio do séculoXX e o Portugal do princípio do séculoXXI...são mais parecidos do que seria desejável...
Acho que não teremos mais golpes de Estado ou revoluções. Até porque falta muito para chegar a esse nível de tensão e a UE não deixaria. Mas, um dia destes, estamos todos à batatada outra vez, com 15 governos em 4 anos e a comunidade internacional a "comer-nos as papas na cabeça"...

Enfim...! Já passámos por pior e aguentámos!
Aquele abraço!

Jomas

10:24  
Blogger Patricia said...

Concordo com tudo o que disseste. Brilhante texto esse que escreveste. Não podemos negar a história, temos é de aprender com ela.
Mas ao que parece, nada foi realmente aprendido... pois caso contrário Salazar não era visto como o melhor português. Enfim resta-nos continuar a sonhar com mentalidades diferentes nas próximas gerações!!

Beijinho
e obrigada pela tua visita ao meu blog. :)

15:03  

Enviar um comentário

<< Home