Hoje acordei de manhã, sem despertador, com os raiz do sol vindos da minha janela. Estava aberta... Existia uma brisa primaveril no ar. Uma brisa fresca que me entrava pelas narinas e caminhava até ao cérebro. Senti a floresta e flores na cidade. Na velha cidade de Lisboa. Caiu-me uma lágrima de prazer. Abri os olhos. Olhei à minha volta e vi o meu velho quarto. O velho quarto de sempre. Aqueles tacos de madeira. O meu cão a um canto ainda a dormitar e a rosnar de deleite. Os meus livros velhos cheios de pó, também a descansar, após longas noites despertos. As moscas voavam doidas às voltas, umas atrás das outras. Esta sim... era uma visão de uma vida em cheio. Pus um pé fora da cama. Esperei um pouco e pus o outro. Assentei-os no chão e bocejei indefinidamente. Olhei para o tecto. A mesma racha de sempre cumprimentava-me. “Olá! Toma uma pinga de bom dia!”. Dirigi-me à janela através do soalho da minha casa já torto pelos anos. Olhei para o pátio do meu velho prédio. Uma árvore mais velha que eu, um banco de jardim, flores e muitos pardais. Estamos na primavera. Que bom!
Fui até à cozinha. Gostei de ver que ontem à noite cumpri a minha promessa de sempre, arrumara-a. Estava tudo limpo e pronta para ser sujada de novo. Olhei para a minha velha torradeira enferrujada e pus lá aquele pão alentejano tão especial. Esperei 5 minutos sentado no balcão e de repente... Zás! Saltou! Apanhei-a a tempo e barrei a melhor manteiga que existe. A manteiga açoriana. Aquela com um papel cinzento à volta e com umas vacas num prato verdejante. Essa mesmo! Comi essa torrada e voltei a fazer mais duas. Todas acompanhadas por um batido de morango que tinha ainda no frigorífico de ontem à noite. Oiço um barulho na porta... olhei, era o meu cão. A dar-me os bons dias com um pequeno ladrar e um abanar de cauda. Olhei para ele e sorri. Dei-lhe uma festa... ficou todo contente!
Tomei um bom banho rápido, um banho de água fria. O melhor banho de sempre. Aquele que nos põe despertos e acordados o dia todo. Fiz a minha barba já longa e que já estava a pedir para ser cortada. Assim o fiz! Finalmente não me cortei. Talvez, quase, pela primeira vez. Vesti uns calções, umas sandálias e uma t-shirt que me ofereceram na minha viagem à Índia. E que bela viagem... Voltei-me a lembrar daquele mês difícil e intenso de viagem... orgulhoso. Mais uma lágrima... Limpei a lágrima e ri-me. Já não me caiam lágrimas à muito tempo. Já tinha os olhos secos. Algo mudara. Resolvi então sair de casa e ir comprar o jornal. Ver se existem novidades neste mundo.
Saí do meu prédio com o meu bom e fiel amigo, de trela e fomos os dois comprar o jornal. Notava-se o quão ele gostava que eu o fosse comprar. Não é que ele tivesse realmente interessado que o seu amigo soubesse as noticias do dia e do mundo mas, gostava realmente no final do dia, de o desfazer todo.
Fui então até à banca do senhor “Manel” e comprei o meu jornal preferido. De seguida, fui para uma esplanada e sentei-me ler o jornal.
Fiquei na velha esplanada uma hora e a beber um bom café. Um café brasileiro bem quente! O café brasileiro sabe-me diferente dos outros. Nunca soube ao certo bem explicar o porquê. Mas era de facto muito mais saboroso. Seria do clima? Da terra? Ficará a pergunta sem a resposta. Dei então uma bolacha ao meu bom amigo de quatro patas. Ele deliciou-se!
Resolvi então descer a rua toda e ir em direcção aos comboios. Era a descer e não custou nada! Apanhei o comboio mesmo a tempo. O comboio ia vazio. Um silencio “massajador” pairava no ar. O meu coração explodia. Descansava finalmente. Depois de tantos anos de correrias e sentimentos confusos, finalmente sabia o que queria. Encontrei-me! Finalmente estava a fazer algo que realmente gosto. Isso era algo que me confortava e me dava uma extrema sensação de bem estar. O mundo a meus pés. Ou aliás, os meus pés no mundo. No mundo correcto!
Cheguei à paragem da praia que sempre fora desde criança. Saí da estação e comecei a caminhar na rua de sempre, vazia, mas cheia de luz. Cheia de vida. Uma rua com muita história. Pairava uma brisa alegre no ar. Andei ao lado do meu bom amigo. Ao chegar às dunas senti que ele queria correr. Tirei-lhe a trela e ele voou. Como uma seta partiu para o seu deserto. O seu canto. Sentei-me na areia e olhei para o oceano. O meu velho companheiro cheirou tudo o que tinha direito. Voltou satisfeito e a abanar freneticamente a cauda. Sentou-se ao meu lado e contemplou comigo o vasto oceano. Ficamos imóveis com o vento nas nossas orelhas. Senti uma forte necessidade de nadar até ao infinito...
O som do vento era agudo. Queixava-se da vida. Queixava-se dos homens que não o respeitam. O vento zangado perguntou-me o que fazíamos ali. Dissera-lhe então que estávamos ali para pedir o seu perdão. Ele resmungou!
- Agora é que vens pedir o meu perdão? Depois deste tempo todo a avisar-te?
- Tens toda a razão – respondi-lhe eu – Mas acredita... eu tenho culpa, mas o meu amigo não tem. Ele apenas vive daquilo que a vida e a natureza lhe dá.
Continuou a resmungar como um velho rezingão.
O vento tinha toda a razão. Não poderia argumentar em minha defesa. Não há argumento possível...
Olhei de novo para o mar.
- Desculpa...
O vento calou-se e chorou.
Despi-me e levantei-me. Decidi ir tomar um banho no mar. Lavar a alma. Perguntei ao vento e ele concordou.
Corri como nunca! O mar chama-me a mim e ao meu amigo narigudo. Corremos os dois com a boca aberta. Com a língua de fora. Eu a gritar e ele a ladrar. Ambos queríamos dar um mergulho. Estávamos a chegar. Olhámos um para o outro e mergulhámos bem fundo...
Acordei e vi que fora uma sonho... Mas que belo sonho! É assim que quero viver...
Fui até à cozinha. Gostei de ver que ontem à noite cumpri a minha promessa de sempre, arrumara-a. Estava tudo limpo e pronta para ser sujada de novo. Olhei para a minha velha torradeira enferrujada e pus lá aquele pão alentejano tão especial. Esperei 5 minutos sentado no balcão e de repente... Zás! Saltou! Apanhei-a a tempo e barrei a melhor manteiga que existe. A manteiga açoriana. Aquela com um papel cinzento à volta e com umas vacas num prato verdejante. Essa mesmo! Comi essa torrada e voltei a fazer mais duas. Todas acompanhadas por um batido de morango que tinha ainda no frigorífico de ontem à noite. Oiço um barulho na porta... olhei, era o meu cão. A dar-me os bons dias com um pequeno ladrar e um abanar de cauda. Olhei para ele e sorri. Dei-lhe uma festa... ficou todo contente!
Tomei um bom banho rápido, um banho de água fria. O melhor banho de sempre. Aquele que nos põe despertos e acordados o dia todo. Fiz a minha barba já longa e que já estava a pedir para ser cortada. Assim o fiz! Finalmente não me cortei. Talvez, quase, pela primeira vez. Vesti uns calções, umas sandálias e uma t-shirt que me ofereceram na minha viagem à Índia. E que bela viagem... Voltei-me a lembrar daquele mês difícil e intenso de viagem... orgulhoso. Mais uma lágrima... Limpei a lágrima e ri-me. Já não me caiam lágrimas à muito tempo. Já tinha os olhos secos. Algo mudara. Resolvi então sair de casa e ir comprar o jornal. Ver se existem novidades neste mundo.
Saí do meu prédio com o meu bom e fiel amigo, de trela e fomos os dois comprar o jornal. Notava-se o quão ele gostava que eu o fosse comprar. Não é que ele tivesse realmente interessado que o seu amigo soubesse as noticias do dia e do mundo mas, gostava realmente no final do dia, de o desfazer todo.
Fui então até à banca do senhor “Manel” e comprei o meu jornal preferido. De seguida, fui para uma esplanada e sentei-me ler o jornal.
Fiquei na velha esplanada uma hora e a beber um bom café. Um café brasileiro bem quente! O café brasileiro sabe-me diferente dos outros. Nunca soube ao certo bem explicar o porquê. Mas era de facto muito mais saboroso. Seria do clima? Da terra? Ficará a pergunta sem a resposta. Dei então uma bolacha ao meu bom amigo de quatro patas. Ele deliciou-se!
Resolvi então descer a rua toda e ir em direcção aos comboios. Era a descer e não custou nada! Apanhei o comboio mesmo a tempo. O comboio ia vazio. Um silencio “massajador” pairava no ar. O meu coração explodia. Descansava finalmente. Depois de tantos anos de correrias e sentimentos confusos, finalmente sabia o que queria. Encontrei-me! Finalmente estava a fazer algo que realmente gosto. Isso era algo que me confortava e me dava uma extrema sensação de bem estar. O mundo a meus pés. Ou aliás, os meus pés no mundo. No mundo correcto!
Cheguei à paragem da praia que sempre fora desde criança. Saí da estação e comecei a caminhar na rua de sempre, vazia, mas cheia de luz. Cheia de vida. Uma rua com muita história. Pairava uma brisa alegre no ar. Andei ao lado do meu bom amigo. Ao chegar às dunas senti que ele queria correr. Tirei-lhe a trela e ele voou. Como uma seta partiu para o seu deserto. O seu canto. Sentei-me na areia e olhei para o oceano. O meu velho companheiro cheirou tudo o que tinha direito. Voltou satisfeito e a abanar freneticamente a cauda. Sentou-se ao meu lado e contemplou comigo o vasto oceano. Ficamos imóveis com o vento nas nossas orelhas. Senti uma forte necessidade de nadar até ao infinito...
O som do vento era agudo. Queixava-se da vida. Queixava-se dos homens que não o respeitam. O vento zangado perguntou-me o que fazíamos ali. Dissera-lhe então que estávamos ali para pedir o seu perdão. Ele resmungou!
- Agora é que vens pedir o meu perdão? Depois deste tempo todo a avisar-te?
- Tens toda a razão – respondi-lhe eu – Mas acredita... eu tenho culpa, mas o meu amigo não tem. Ele apenas vive daquilo que a vida e a natureza lhe dá.
Continuou a resmungar como um velho rezingão.
O vento tinha toda a razão. Não poderia argumentar em minha defesa. Não há argumento possível...
Olhei de novo para o mar.
- Desculpa...
O vento calou-se e chorou.
Despi-me e levantei-me. Decidi ir tomar um banho no mar. Lavar a alma. Perguntei ao vento e ele concordou.
Corri como nunca! O mar chama-me a mim e ao meu amigo narigudo. Corremos os dois com a boca aberta. Com a língua de fora. Eu a gritar e ele a ladrar. Ambos queríamos dar um mergulho. Estávamos a chegar. Olhámos um para o outro e mergulhámos bem fundo...
Acordei e vi que fora uma sonho... Mas que belo sonho! É assim que quero viver...
4 Comments:
"- It's raining cats and dogs.
- (...)
- I said it's raining cats and dogs.
- Yes, I heard you.
- You might have answered.
- I suppose I'm not used to speaking unless I've something to say.
- If people only spoke when they had something to say, the human race would soon lose the power of speech."
In "The Painted Veil",
Somerset Maugham
João Francisco
Provavelmente, já voltaste da Zambujeira do Mar. Lamento que só agora recebas um post meu.
Sabes, a Vera tem toda a razão no comentário e que fez e tu, escreveste um dos melhores post que li dos que aqui tens. Aprecio alguém com sensiblidade suficiente para apreciar as pequenas coisas boas da vida e ainda mais quem tem a coragem para assumir os seus sentimentos.
Nesse teu sonho, onde te encontraste? Que queres, realmente, fazer? Como queres viver?
Obrigada plos teus posts (pela tua atenção). beijinho
Também o meu dia será assim... mas meu! Quando me vir esclarecido.
Por enquanto vou lendo coisas que me façam acreditar que estar esclarecido é estar sereno ;)
Gritos, brados, ecos e laivos, Anseios, impulsos, vôos e choros. Lamentos, alegrias, glórias e tormentos.
Explosões, implosões, esperas e tensões.
São estas as coisas, de entre as outras as melhores, que o coração usa para empurrar para aquela vida livre que tanto nos foge...aquela vida em que o Sol brilha mesmo se chove. Aquela vida em que nunca se está vivo só porque há mais ar para respirar.
São estas as coisas, de entre as outras as melhores, que o coração usa para nos vencer. Para que tenhamos a coragem de ouvir o nosso silêncio e descobrir a serena Paz, a profunda Alegria, o infinito Amor, nesse cantinho só nosso do tamanho do mundo inteiro, em que o Sol brilha sempre, mesmo quando chove. Em que somos maiores que o mundo. Em que estamos, numa palavra, tranquilos...e dizemos, com a voz do coração, de alma vibrante e de olhos bem abertos e sereno sorriso: ya...tá muita bom...
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