14 fevereiro 2007

De volta de Barcelona

Estou de volta de Barcelona. Que cidade maravilhosa! Numa semana deu para ter uma ideia o porquê desta cidade ser considerada como uma das mais culturais e ricas da Europa. Grandes artistas como Pablo Picasso, Joan Miró, Antoni Gaudí, Antoni Tàpies, entre outros, viveram e trabalharam em Barcelona. O trabalho destes “ícones” da arte fizeram com que esta cidade crescesse e se assumisse como uma das capitais artísticas europeias de maior proeminência.
O que realmente muda em Barcelona em relação a Lisboa, não é apenas a cultura pela arte. Mas sim, uma sociedade multicultural que nos rodeia e que assume a diferença como virtude - como deveria ser sempre considerada. Como é próprio das cidades espanholas, as pessoas em vez de irem para centros comerciais (como é próprio da mentalidade portuguesa) ficam na rua a passear e a conviver. As ruas de Barcelona estão sempre com imensa vida graças a isto. As pessoas em Barcelona vivem a cidade e a cidade vive das pessoas. Um dos grandes problemas de Lisboa é as pessoas não viverem no centro da cidade, mas sim nos dormitórios à volta. As ruas de Lisboa (salvo algumas) não têm qualquer vida. Felizmente começam a existir alguns movimentos com o intuito de dar vida a Lisboa, no entanto ainda estamos muito longe de isso acontecer por completo. Principalmente, têm que se mudar a mentalidade dos lisbonenses e dos portugueses.
Uma cidade desenvolvida têm que ser mais do que um dormitório! Os centros comerciais deveriam ser todos demolidos em Portugal! É uma das aberrações portuguesas! (Juntamente com outras). Como será possível que os portugueses pensem que para relaxar e passarem um bom tempo devem ir a um centro comercial? Esta cultura do ultra consumismo dá comigo em doido. As relações pessoais desenvolvem-se em centros comerciais? Desenvolvem-se em discotecas e bares? E mesmo em relação à própria pessoa em si, o que vai ganhar com isto? Vamos pôr os nossos horizontes mais à frente meus senhores e minhas senhoras! Chega de “pequenês” e da mentalidade da província.
Um grande erro no passado foi o poder que foi dado à construção civil e às autarquias para o planeamento urbano. A construção civil em Portugal é uma das responsáveis pelo planeamento urbanístico, juntamente com os inúmeras pessoas irresponsáveis que passaram pelas autarquias e que o permitiram. O “boom” português após 74 fez com que fosse necessário a construção desenfreada de casas novas. Seguiu-se também o aparecimento de inúmeros “bairros de lata”. O que contribuiu ainda mais para o aparecimento ainda mais dos chamados bairros sociais. Dormitórios atrás de dormitórios! Estava-se a cometer um autêntico homicídio e a vítima era Lisboa. Agora passado estes anos, o que fazer? Questão complexa... Não podemos deitar tudo abaixo e construir tudo de novo. Tal como inúmeros lideres militares disseram, é mais fácil reconstruir e voltar a planear uma cidade depois de uma guerra, visto que o inimigo nos poupou o dinheiro e tempo de sermos nós a destruir tudo. Claro que isto é uma visão radical, mas funcionou com Berlim. A guerra em Lisboa será connosco próprios. Guerra ao portuguesismo!
O típico português é corrupto por natureza, visto que isso é ensinado na própria família. As famílias portuguesas ensinam o facilitismo, o consumismo extremo, o individualismo e principalmente, o padrão. Desde 74 estamos em festa! Todas as pessoas que nasceram após este ano nasceram em festa e para a festa. E continuam em festa! A sociedade portuguesa é uma festa na qual no dia seguinte está tudo de ressaca.
Muito há a mudar... Seremos nós a mudar isso! Não fiquemos de braços cruzados.
De chegada a Barcelona fico muito contente pelo Sim ter ganho no referendo ao aborto. Uma das pequenas vitórias nesta guerra, talvez um pouco inglória. No entanto, tenho que fazer aqui um protesto. Sei que a culpa em parte é minha por ter marcado uma viagem na altura do referendo. Quando a marquei à um mês atrás não me lembrei da data do referendo. Não é desculpa! No entanto, em que país estamos nós que apenas podemos votar se estivermos na nossa área de residência? Quantas pessoas estariam fora de Portugal e da sua área de residência nessa altura e não puderam votar? Tantas vezes se põe responsabilidades e virtudes à internet e porque não pôr também um pouco do dever cívico nela? Será assim tão grotesco? Ter a opção de votar pela internet? Penso que não. Penso que o voto será encarado à mesma com a devida responsabilidade. Tenho a convicção que é algo que deveria mudar.
Em relação ao aborto lembro-me especialmente de uma conversa que tive em Barcelona com uma grega, uma norte-americana e um espanhol e os meus amigos portugueses. A conversa começou comigo a informá-los que naquele dia estar-se-ia a votar num referendo ao aborto. Eles ficaram bastante perplexos como seria possível ainda isso ser posto em causa em Portugal. Eu fiquei sem resposta para lhes dar. No entanto, a nossa conversa evoluiu de uma maneira interessante para o papel da mulher na sociedade (muito pela parte da rapariga americana). Na sua opinião, achava que a mulher ainda era muito descriminada em detrimento do homem. De certa forma concordo, no entanto muito têm vindo a mudar. Também falámos da lei que vai ser aprovada no qual cada partido têm que ter a obrigatoriedade de ter 30% de mulheres no parlamento. Na minha opinião acho esta lei ridícula. Põe o estatuto da mulher de uma forma quase não desejada e diferencia de facto, o homem da mulher. Por fim chegou-se ao tema que mais dividiu as pessoas na sala. A americana e o espanhol achavam que todos éramos iguais indiferentemente da raça ou sexo. Na minha opinião, penso que um homem é em muitos aspectos diferente de uma mulher (falando em termos gerais). E uma pessoa que vive numa cultura totalmente diferente da nossa é diferente de nós. E na minha opinião claro que não se resume apenas à cultura, mas algo que está inato em nós. Nos nossos genes. A genética é bastante importante. E é algo que não deve ser ignorado.
Foi uma conversa muito interessante e que mostrou diferentes pontos de vista. Deu também para ter a consciência (mais uma vez) que nos povos latinos o papel da mulher ainda está muito descriminado. Mas de facto, é um tema muito pouco consensual. No entanto, como é obvio a História e a Sociedade são duas realidades que não podem ser ignoradas para o estudo da própria sociedade e do indivíduo.


“Os sexos iludem-se um sobre o outro; isso faz com que, no fundo, eles só se respeitem e amem a si mesmos (...). Assim, o homem quer a mulher pacífica, mas, juntamente, a mulher, essencialmente, não é pacífica, tal como o gato, por mais que se tenha exercitado a dar uma aparência pacífica.” Friedrich Nietzsche