"Os objectos dos sentidos abandonam a alma abstémia, deixando para trás apenas traços. Porém, mesmo estes desaparecem com a compreensão do Mais Elevado" [Bhagavad-Gita, 2-59]
26 abril 2007
22 abril 2007
18 abril 2007
Estava um dia lindíssimo. Um sol abrasador, não havia vento e talvez houvesse algumas ondas que pudessem dar-lhe algumas alegrias momentâneas. No entanto, Diogo estava doente. Não podia sair de casa sequer! Isto entristecia-o bastante... Adorava a praia e todos os prazeres que ela lhe dava. Logo hoje que estava um dia quase perfeito de Verão! Hoje ia ter que remeter-se a um canto de sua casa, que dava o nome de quarto. Era um canto onde mais ninguém tocava. Onde apenas ele e só ele tinha direito a entrar e meditar. Um canto sagrado...
Diogo sentia-se só... Estava doente, quase todos os seus amigos tinham saído da sua aldeia e os seus pais estavam cada vez mais atarefados com o trabalho que o campo lhes dava. Trabalhavam de sol a sol, tal como antigamente. Diogo nunca ouvira uma queixa de seus pais! Isto era algo que ele não conseguia compreender... Sempre que acordava um pouco mais cedo, acordava sempre mal disposto. E queixava-se bastante. Sentia-se uma pessoa mole comparando-se com os seus pais. Chegava a ser sufocante ter pessoas tão exemplares a seu lado. Fazia com que ele se sentisse um total inútil.
Diogo sempre fora um amante da vida. Gostava de desfrutar de todos os prazeres que ela lhe dava. Adorava aprender e conhecer coisas novas. Desde criança que os pais lhe ensinaram que o melhor da vida é a aprendizagem. Que sem ela, a vida não tinha qualquer sentido. E Diogo concordava com seus pais apesar de não perceber muito bem o porquê. No entanto, Diogo crescera... Chegara o momento em que Diogo tinha que decidir o que ia fazer de sua vida. Se realmente ia ficar na aldeia e ajudar os pais no seu incansável e interminável trabalho, ou, se ia abandonar tudo o que amava para ir para a cidade... Era uma dúvida que angustiava Diogo constantemente. Será que na cidade iria ser mais feliz? Pelo menos não teria que trabalhar no campo... No entanto, Diogo tinha a certeza que a cidade não lhe daria os prazeres que o campo lhe dava. Tudo o que Diogo ouvia da cidade é que havia muitas pessoas e muita confusão. Que havia muitos carros e que as praias que haviam estavam cheias de pessoas! Diogo só de pensar nisso até ficava triste com a ideia de mudar para lá. No entanto, sentia que precisava de conhecer a cidade. Tal como os pais lhe tinham ensinado antes, o conhecimento é tudo. Os próprios pais queriam que ele fosse para a cidade! Que saísse dali... Que tivesse uma vida e sorte melhor que eles.
O quê? Tocavam à porta de Diogo? Isto animou-o e de que maneira! Levantou-se como já não tivesse doente e era Joana, uma amiga sua desde infância. Ultimamente estava um pouco estranha... Desde que cresceram, passaram das intermináveis zaragatas e conflitos, para que Joana começasse a ser mais meiga com ele. Diogo não percebia porquê. Abriu a porta à sua amiga e ela deu-lhe um beijo na face. Um beijo doce e fresco que fizera corar Diogo.
- Não me devias beijar! Sabes que ainda não estou bom. Ainda ficas doente! – dissera Diogo.
- Ó tolo... Sabes bem que eu sou rija e não fico doente! O que andas a fazer? – disse Joana.
Diogo explicou-lhe então que ficara a manhã toda em casa e que não tinha feito nada de útil nos dias que esteve doente. Disse-lhe o quanto isto lhe entristecia. Pediu-lhe também para ela não lhe dizer se havia ou não ondas na praia. Ele preferia não saber. Joana sorriu.
- Diogo... Vamos dar um volta! Vais ver que te faz bem! Apanhar ar puro! Trazes um casaco. – disse Joana meigamente.
Diogo aceitou. Afinal já estava melhor e já estava farto de estar em casa. Correu para o quarto para ir buscar o casaco e saiu de casa com a sua amiga Joana.
Que belo dia! Que sol! Não havia nenhum vento... Diogo sempre tivera uma má relação com o vento. Tirava-lhe muitos prazeres na vida esse vento maldoso. Um verdadeiro desmancha prazeres. Joana olhou para Diogo e disse:
- Vamos! Tenho uma surpresa para ti, Diogo!
Diogo ficou a olhar para ela com um ar céptico. Franziu o olhar. Joana deu uma gargalhada.
- Vá! Dá-me a mão e não sejas resmungão! – disse Joana.
E assim foi. Diogo deu-lhe a mão e deixou-se levar até à surpresa da sua amiga. Andaram os dois em silêncio... Os dois a pensar que daqui a um ano o mais provável era não estarem juntos. E daqui a algum tempo cumprimentar-se-iam quase como desconhecidos. Joana soltou uma lágrima. Diogo não reparou. Estava entretido a olhar para as pedras na calçada.
Passado algum tempo de estarem a caminhar, Joana parou... Diogo ficou a olhar para ela e reparou que ela estava com os olhos húmidos. Joana decidiu então quebrar o silêncio.
- Sabes Diogo – disse Joana – gosto muito de ti. Já à muito tempo estava para te dizer, mas achava que tu ias reagir mal. Já nos conhecemos à muito tempo, no entanto, sinto que os meus sentimentos por ti têm vindo a mudar. Tentei compreende-los durante algum tempo e cheguei a esta conclusão. Tenho pena de só te dizer agora... Agora que vais partir... Peço-te desculpas por isso.
Diogo ficou a olhar para ela e sentou-se na relva. Sentiu-se fraco. Não compreendia o que a amiga acabara de lhe dizer. Ficou apenas fixamente a olhar para ela. Com um olhar quase ausente. Um olhar que olhava para dentro de si. Tentou compreender o que estas palavras lhe significavam.
- Dá-me a mão... Vêm comigo! – disse Joana.
E assim fez Diogo. Continuou a pensar. Continuou a não conseguir compreender Joana.
Ela levou-o para a rocha mais alta que dava sobre a praia. Diogo conseguiu ver toda praia e as ondas. Haviam ondas nesse dia na sua praia preferida! Ficou furioso e resmungou pela Joana lhe ter levado ali.
- Senta-te! – ordenou Joana – E ouve!
Sentaram-se os dois. Um ao lado do outro e ficaram a olhar para a praia. Ficaram a ouvir o mar. Não disseram uma palavra um ao outro. Olharam os dois para as ondas e para o infinito. Finalmente Diogo percebeu o que Joana queria ao levar-lhe ali! Afinal tudo fazia sentido olhar as ondas ao lado de Joana. Deu um beijo profundo a Joana e foi a correr para casa.
Ao chegar a casa contou a boa nova aos pais. Decidiu ficar na aldeia a trabalhar. Decidiu ficar ao lado de Joana.
Diogo sentia-se só... Estava doente, quase todos os seus amigos tinham saído da sua aldeia e os seus pais estavam cada vez mais atarefados com o trabalho que o campo lhes dava. Trabalhavam de sol a sol, tal como antigamente. Diogo nunca ouvira uma queixa de seus pais! Isto era algo que ele não conseguia compreender... Sempre que acordava um pouco mais cedo, acordava sempre mal disposto. E queixava-se bastante. Sentia-se uma pessoa mole comparando-se com os seus pais. Chegava a ser sufocante ter pessoas tão exemplares a seu lado. Fazia com que ele se sentisse um total inútil.
Diogo sempre fora um amante da vida. Gostava de desfrutar de todos os prazeres que ela lhe dava. Adorava aprender e conhecer coisas novas. Desde criança que os pais lhe ensinaram que o melhor da vida é a aprendizagem. Que sem ela, a vida não tinha qualquer sentido. E Diogo concordava com seus pais apesar de não perceber muito bem o porquê. No entanto, Diogo crescera... Chegara o momento em que Diogo tinha que decidir o que ia fazer de sua vida. Se realmente ia ficar na aldeia e ajudar os pais no seu incansável e interminável trabalho, ou, se ia abandonar tudo o que amava para ir para a cidade... Era uma dúvida que angustiava Diogo constantemente. Será que na cidade iria ser mais feliz? Pelo menos não teria que trabalhar no campo... No entanto, Diogo tinha a certeza que a cidade não lhe daria os prazeres que o campo lhe dava. Tudo o que Diogo ouvia da cidade é que havia muitas pessoas e muita confusão. Que havia muitos carros e que as praias que haviam estavam cheias de pessoas! Diogo só de pensar nisso até ficava triste com a ideia de mudar para lá. No entanto, sentia que precisava de conhecer a cidade. Tal como os pais lhe tinham ensinado antes, o conhecimento é tudo. Os próprios pais queriam que ele fosse para a cidade! Que saísse dali... Que tivesse uma vida e sorte melhor que eles.
O quê? Tocavam à porta de Diogo? Isto animou-o e de que maneira! Levantou-se como já não tivesse doente e era Joana, uma amiga sua desde infância. Ultimamente estava um pouco estranha... Desde que cresceram, passaram das intermináveis zaragatas e conflitos, para que Joana começasse a ser mais meiga com ele. Diogo não percebia porquê. Abriu a porta à sua amiga e ela deu-lhe um beijo na face. Um beijo doce e fresco que fizera corar Diogo.
- Não me devias beijar! Sabes que ainda não estou bom. Ainda ficas doente! – dissera Diogo.
- Ó tolo... Sabes bem que eu sou rija e não fico doente! O que andas a fazer? – disse Joana.
Diogo explicou-lhe então que ficara a manhã toda em casa e que não tinha feito nada de útil nos dias que esteve doente. Disse-lhe o quanto isto lhe entristecia. Pediu-lhe também para ela não lhe dizer se havia ou não ondas na praia. Ele preferia não saber. Joana sorriu.
- Diogo... Vamos dar um volta! Vais ver que te faz bem! Apanhar ar puro! Trazes um casaco. – disse Joana meigamente.
Diogo aceitou. Afinal já estava melhor e já estava farto de estar em casa. Correu para o quarto para ir buscar o casaco e saiu de casa com a sua amiga Joana.
Que belo dia! Que sol! Não havia nenhum vento... Diogo sempre tivera uma má relação com o vento. Tirava-lhe muitos prazeres na vida esse vento maldoso. Um verdadeiro desmancha prazeres. Joana olhou para Diogo e disse:
- Vamos! Tenho uma surpresa para ti, Diogo!
Diogo ficou a olhar para ela com um ar céptico. Franziu o olhar. Joana deu uma gargalhada.
- Vá! Dá-me a mão e não sejas resmungão! – disse Joana.
E assim foi. Diogo deu-lhe a mão e deixou-se levar até à surpresa da sua amiga. Andaram os dois em silêncio... Os dois a pensar que daqui a um ano o mais provável era não estarem juntos. E daqui a algum tempo cumprimentar-se-iam quase como desconhecidos. Joana soltou uma lágrima. Diogo não reparou. Estava entretido a olhar para as pedras na calçada.
Passado algum tempo de estarem a caminhar, Joana parou... Diogo ficou a olhar para ela e reparou que ela estava com os olhos húmidos. Joana decidiu então quebrar o silêncio.
- Sabes Diogo – disse Joana – gosto muito de ti. Já à muito tempo estava para te dizer, mas achava que tu ias reagir mal. Já nos conhecemos à muito tempo, no entanto, sinto que os meus sentimentos por ti têm vindo a mudar. Tentei compreende-los durante algum tempo e cheguei a esta conclusão. Tenho pena de só te dizer agora... Agora que vais partir... Peço-te desculpas por isso.
Diogo ficou a olhar para ela e sentou-se na relva. Sentiu-se fraco. Não compreendia o que a amiga acabara de lhe dizer. Ficou apenas fixamente a olhar para ela. Com um olhar quase ausente. Um olhar que olhava para dentro de si. Tentou compreender o que estas palavras lhe significavam.
- Dá-me a mão... Vêm comigo! – disse Joana.
E assim fez Diogo. Continuou a pensar. Continuou a não conseguir compreender Joana.
Ela levou-o para a rocha mais alta que dava sobre a praia. Diogo conseguiu ver toda praia e as ondas. Haviam ondas nesse dia na sua praia preferida! Ficou furioso e resmungou pela Joana lhe ter levado ali.
- Senta-te! – ordenou Joana – E ouve!
Sentaram-se os dois. Um ao lado do outro e ficaram a olhar para a praia. Ficaram a ouvir o mar. Não disseram uma palavra um ao outro. Olharam os dois para as ondas e para o infinito. Finalmente Diogo percebeu o que Joana queria ao levar-lhe ali! Afinal tudo fazia sentido olhar as ondas ao lado de Joana. Deu um beijo profundo a Joana e foi a correr para casa.
Ao chegar a casa contou a boa nova aos pais. Decidiu ficar na aldeia a trabalhar. Decidiu ficar ao lado de Joana.
12 abril 2007
Hoje acordei de manhã, sem despertador, com os raiz do sol vindos da minha janela. Estava aberta... Existia uma brisa primaveril no ar. Uma brisa fresca que me entrava pelas narinas e caminhava até ao cérebro. Senti a floresta e flores na cidade. Na velha cidade de Lisboa. Caiu-me uma lágrima de prazer. Abri os olhos. Olhei à minha volta e vi o meu velho quarto. O velho quarto de sempre. Aqueles tacos de madeira. O meu cão a um canto ainda a dormitar e a rosnar de deleite. Os meus livros velhos cheios de pó, também a descansar, após longas noites despertos. As moscas voavam doidas às voltas, umas atrás das outras. Esta sim... era uma visão de uma vida em cheio. Pus um pé fora da cama. Esperei um pouco e pus o outro. Assentei-os no chão e bocejei indefinidamente. Olhei para o tecto. A mesma racha de sempre cumprimentava-me. “Olá! Toma uma pinga de bom dia!”. Dirigi-me à janela através do soalho da minha casa já torto pelos anos. Olhei para o pátio do meu velho prédio. Uma árvore mais velha que eu, um banco de jardim, flores e muitos pardais. Estamos na primavera. Que bom!
Fui até à cozinha. Gostei de ver que ontem à noite cumpri a minha promessa de sempre, arrumara-a. Estava tudo limpo e pronta para ser sujada de novo. Olhei para a minha velha torradeira enferrujada e pus lá aquele pão alentejano tão especial. Esperei 5 minutos sentado no balcão e de repente... Zás! Saltou! Apanhei-a a tempo e barrei a melhor manteiga que existe. A manteiga açoriana. Aquela com um papel cinzento à volta e com umas vacas num prato verdejante. Essa mesmo! Comi essa torrada e voltei a fazer mais duas. Todas acompanhadas por um batido de morango que tinha ainda no frigorífico de ontem à noite. Oiço um barulho na porta... olhei, era o meu cão. A dar-me os bons dias com um pequeno ladrar e um abanar de cauda. Olhei para ele e sorri. Dei-lhe uma festa... ficou todo contente!
Tomei um bom banho rápido, um banho de água fria. O melhor banho de sempre. Aquele que nos põe despertos e acordados o dia todo. Fiz a minha barba já longa e que já estava a pedir para ser cortada. Assim o fiz! Finalmente não me cortei. Talvez, quase, pela primeira vez. Vesti uns calções, umas sandálias e uma t-shirt que me ofereceram na minha viagem à Índia. E que bela viagem... Voltei-me a lembrar daquele mês difícil e intenso de viagem... orgulhoso. Mais uma lágrima... Limpei a lágrima e ri-me. Já não me caiam lágrimas à muito tempo. Já tinha os olhos secos. Algo mudara. Resolvi então sair de casa e ir comprar o jornal. Ver se existem novidades neste mundo.
Saí do meu prédio com o meu bom e fiel amigo, de trela e fomos os dois comprar o jornal. Notava-se o quão ele gostava que eu o fosse comprar. Não é que ele tivesse realmente interessado que o seu amigo soubesse as noticias do dia e do mundo mas, gostava realmente no final do dia, de o desfazer todo.
Fui então até à banca do senhor “Manel” e comprei o meu jornal preferido. De seguida, fui para uma esplanada e sentei-me ler o jornal.
Fiquei na velha esplanada uma hora e a beber um bom café. Um café brasileiro bem quente! O café brasileiro sabe-me diferente dos outros. Nunca soube ao certo bem explicar o porquê. Mas era de facto muito mais saboroso. Seria do clima? Da terra? Ficará a pergunta sem a resposta. Dei então uma bolacha ao meu bom amigo de quatro patas. Ele deliciou-se!
Resolvi então descer a rua toda e ir em direcção aos comboios. Era a descer e não custou nada! Apanhei o comboio mesmo a tempo. O comboio ia vazio. Um silencio “massajador” pairava no ar. O meu coração explodia. Descansava finalmente. Depois de tantos anos de correrias e sentimentos confusos, finalmente sabia o que queria. Encontrei-me! Finalmente estava a fazer algo que realmente gosto. Isso era algo que me confortava e me dava uma extrema sensação de bem estar. O mundo a meus pés. Ou aliás, os meus pés no mundo. No mundo correcto!
Cheguei à paragem da praia que sempre fora desde criança. Saí da estação e comecei a caminhar na rua de sempre, vazia, mas cheia de luz. Cheia de vida. Uma rua com muita história. Pairava uma brisa alegre no ar. Andei ao lado do meu bom amigo. Ao chegar às dunas senti que ele queria correr. Tirei-lhe a trela e ele voou. Como uma seta partiu para o seu deserto. O seu canto. Sentei-me na areia e olhei para o oceano. O meu velho companheiro cheirou tudo o que tinha direito. Voltou satisfeito e a abanar freneticamente a cauda. Sentou-se ao meu lado e contemplou comigo o vasto oceano. Ficamos imóveis com o vento nas nossas orelhas. Senti uma forte necessidade de nadar até ao infinito...
O som do vento era agudo. Queixava-se da vida. Queixava-se dos homens que não o respeitam. O vento zangado perguntou-me o que fazíamos ali. Dissera-lhe então que estávamos ali para pedir o seu perdão. Ele resmungou!
- Agora é que vens pedir o meu perdão? Depois deste tempo todo a avisar-te?
- Tens toda a razão – respondi-lhe eu – Mas acredita... eu tenho culpa, mas o meu amigo não tem. Ele apenas vive daquilo que a vida e a natureza lhe dá.
Continuou a resmungar como um velho rezingão.
O vento tinha toda a razão. Não poderia argumentar em minha defesa. Não há argumento possível...
Olhei de novo para o mar.
- Desculpa...
O vento calou-se e chorou.
Despi-me e levantei-me. Decidi ir tomar um banho no mar. Lavar a alma. Perguntei ao vento e ele concordou.
Corri como nunca! O mar chama-me a mim e ao meu amigo narigudo. Corremos os dois com a boca aberta. Com a língua de fora. Eu a gritar e ele a ladrar. Ambos queríamos dar um mergulho. Estávamos a chegar. Olhámos um para o outro e mergulhámos bem fundo...
Acordei e vi que fora uma sonho... Mas que belo sonho! É assim que quero viver...
Fui até à cozinha. Gostei de ver que ontem à noite cumpri a minha promessa de sempre, arrumara-a. Estava tudo limpo e pronta para ser sujada de novo. Olhei para a minha velha torradeira enferrujada e pus lá aquele pão alentejano tão especial. Esperei 5 minutos sentado no balcão e de repente... Zás! Saltou! Apanhei-a a tempo e barrei a melhor manteiga que existe. A manteiga açoriana. Aquela com um papel cinzento à volta e com umas vacas num prato verdejante. Essa mesmo! Comi essa torrada e voltei a fazer mais duas. Todas acompanhadas por um batido de morango que tinha ainda no frigorífico de ontem à noite. Oiço um barulho na porta... olhei, era o meu cão. A dar-me os bons dias com um pequeno ladrar e um abanar de cauda. Olhei para ele e sorri. Dei-lhe uma festa... ficou todo contente!
Tomei um bom banho rápido, um banho de água fria. O melhor banho de sempre. Aquele que nos põe despertos e acordados o dia todo. Fiz a minha barba já longa e que já estava a pedir para ser cortada. Assim o fiz! Finalmente não me cortei. Talvez, quase, pela primeira vez. Vesti uns calções, umas sandálias e uma t-shirt que me ofereceram na minha viagem à Índia. E que bela viagem... Voltei-me a lembrar daquele mês difícil e intenso de viagem... orgulhoso. Mais uma lágrima... Limpei a lágrima e ri-me. Já não me caiam lágrimas à muito tempo. Já tinha os olhos secos. Algo mudara. Resolvi então sair de casa e ir comprar o jornal. Ver se existem novidades neste mundo.
Saí do meu prédio com o meu bom e fiel amigo, de trela e fomos os dois comprar o jornal. Notava-se o quão ele gostava que eu o fosse comprar. Não é que ele tivesse realmente interessado que o seu amigo soubesse as noticias do dia e do mundo mas, gostava realmente no final do dia, de o desfazer todo.
Fui então até à banca do senhor “Manel” e comprei o meu jornal preferido. De seguida, fui para uma esplanada e sentei-me ler o jornal.
Fiquei na velha esplanada uma hora e a beber um bom café. Um café brasileiro bem quente! O café brasileiro sabe-me diferente dos outros. Nunca soube ao certo bem explicar o porquê. Mas era de facto muito mais saboroso. Seria do clima? Da terra? Ficará a pergunta sem a resposta. Dei então uma bolacha ao meu bom amigo de quatro patas. Ele deliciou-se!
Resolvi então descer a rua toda e ir em direcção aos comboios. Era a descer e não custou nada! Apanhei o comboio mesmo a tempo. O comboio ia vazio. Um silencio “massajador” pairava no ar. O meu coração explodia. Descansava finalmente. Depois de tantos anos de correrias e sentimentos confusos, finalmente sabia o que queria. Encontrei-me! Finalmente estava a fazer algo que realmente gosto. Isso era algo que me confortava e me dava uma extrema sensação de bem estar. O mundo a meus pés. Ou aliás, os meus pés no mundo. No mundo correcto!
Cheguei à paragem da praia que sempre fora desde criança. Saí da estação e comecei a caminhar na rua de sempre, vazia, mas cheia de luz. Cheia de vida. Uma rua com muita história. Pairava uma brisa alegre no ar. Andei ao lado do meu bom amigo. Ao chegar às dunas senti que ele queria correr. Tirei-lhe a trela e ele voou. Como uma seta partiu para o seu deserto. O seu canto. Sentei-me na areia e olhei para o oceano. O meu velho companheiro cheirou tudo o que tinha direito. Voltou satisfeito e a abanar freneticamente a cauda. Sentou-se ao meu lado e contemplou comigo o vasto oceano. Ficamos imóveis com o vento nas nossas orelhas. Senti uma forte necessidade de nadar até ao infinito...
O som do vento era agudo. Queixava-se da vida. Queixava-se dos homens que não o respeitam. O vento zangado perguntou-me o que fazíamos ali. Dissera-lhe então que estávamos ali para pedir o seu perdão. Ele resmungou!
- Agora é que vens pedir o meu perdão? Depois deste tempo todo a avisar-te?
- Tens toda a razão – respondi-lhe eu – Mas acredita... eu tenho culpa, mas o meu amigo não tem. Ele apenas vive daquilo que a vida e a natureza lhe dá.
Continuou a resmungar como um velho rezingão.
O vento tinha toda a razão. Não poderia argumentar em minha defesa. Não há argumento possível...
Olhei de novo para o mar.
- Desculpa...
O vento calou-se e chorou.
Despi-me e levantei-me. Decidi ir tomar um banho no mar. Lavar a alma. Perguntei ao vento e ele concordou.
Corri como nunca! O mar chama-me a mim e ao meu amigo narigudo. Corremos os dois com a boca aberta. Com a língua de fora. Eu a gritar e ele a ladrar. Ambos queríamos dar um mergulho. Estávamos a chegar. Olhámos um para o outro e mergulhámos bem fundo...
Acordei e vi que fora uma sonho... Mas que belo sonho! É assim que quero viver...
04 abril 2007
“Quando te derem um copo de água, oferece um prato de comida;
Quando te derem um bom-dia sincero, curva-te com respeito e zelo;
Quando te derem uma simples moeda, devolve com ouro;
Se conquistares a tua vida, não será uma vida contida.
Os actos e palavras dos Sábios só serão coerentes
quando reconhecerem o trabalho dos que os servem.
A verdadeira nobreza de um ser humano está na alegria
de retribuir com o bem o mal que lhe causam.” Poema em guzerate que Gandhi aprendeu na escola
"A mensagem deste poema - o bem em retribuição do mal - tornou-se o princípio que rege a minha vida. É apaixonante e tem múltiplas possibilidades de leitura." Mohandas K. Gandhi
Quando te derem um bom-dia sincero, curva-te com respeito e zelo;
Quando te derem uma simples moeda, devolve com ouro;
Se conquistares a tua vida, não será uma vida contida.
Os actos e palavras dos Sábios só serão coerentes
quando reconhecerem o trabalho dos que os servem.
A verdadeira nobreza de um ser humano está na alegria
de retribuir com o bem o mal que lhe causam.” Poema em guzerate que Gandhi aprendeu na escola
"A mensagem deste poema - o bem em retribuição do mal - tornou-se o princípio que rege a minha vida. É apaixonante e tem múltiplas possibilidades de leitura." Mohandas K. Gandhi